sexta-feira, 26 de abril de 2013

A criança e/é os pais



A criança e/é os pais
Por Matheus Vieira

Tenho percebido um grande aumento de reclamações por parte dos pais a respeito de seus filhos. Enganam-se aqueles que acham que vou falar de drogas ou festas em excesso. Vejo muitos pais queixando-se dos filhos por que eles só ficam dentro de casa, mexendo no computador, videogame ou assistindo televisão; dizem ainda que seus filhos não têm amigos, são sozinhos e introspectivos.

Pais me procuram, seja na clínica em que atuo, em projetos desenvolvidos em escolas ou até mesmo quando estou caminhando pela calçada, desesperados com a apatia, ou mesmo “falta de vida” dos filhos. O que esses pais não sabem é que muitas vezes (para não dizer a grande maioria) os jovens desenvolvem comportamentos reativos aos pais. O que é isso? Eles reagem, desenvolvem seu “jeito de ser” a partir dos pais.

Vamos pensar assim: quem apresenta o mundo para as crianças são, prioritariamente, os pais. A partir dessa relação é que a criança vai construindo sua noção de mundo: o que é bom, o que é ruim, como se portar em determinada situação e por aí vai...

E o que percebi nesses pais? Que todos eles eram/são extremamente superprotetores.  De alguma forma todos eles ensinaram seus filhos que o mundo é perigoso, que as pessoas são perigosas e que há males em todas as esquinas. Dessa maneira é fácil entender porque eles têm dificuldades de fazer amizades e saírem de casa. Os pais lhes ensinaram que ficar em casa é mais seguro.

Percebam que enquanto as crianças cresciam, os pais as deixavam sempre “debaixo da asa”, colocando os filhos dentro de uma bolha protetora. Depois que crescem e atingem a adolescência e juventude, os pais esperam que magicamente tudo mude. Esquecem que não há magia. Ao menos não nesse caso! O viver, crescer, aprender, amadurecer é um processo contínuo, gradativo de construção, desconstrução e reconstrução de valores.

Se o que foi construído para os jovens foi um mundo perigoso, onde todos são maus de alguma maneira e eles (os filhos) são pobres vítimas indefesas, claro que eles preferirão o conforto de suas casas e vão manter suas amizades pelas redes sociais da internet. Não é complicado entender que eles têm medo do mundo que o espera fora de casa.

Sei que nem todos os casos são assim. Alguns pais que me procuraram diziam que os filhos ficam muito dentro de casa, mas porque comparavam seus filhos com as crianças de décadas passadas. A sociedade mudou e com ela alguns hábitos. Atualmente é mais raro encontrar crianças brincando na rua como antigamente. Esperar que os filhos ajam como os pais quando eram mais novos é um erro ingênuo. Nesses casos, os jovens não tinham “medo da vida”; apenas estão sendo jovens nos dias de hoje.

Caso você, pai ou mãe, ache que seu filho tem algum problema, investigue em você mesmo se a semente desse problema não foi você que plantou!

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