sexta-feira, 3 de maio de 2013

Narciso nos dias de hoje!



Narciso nos dias de hoje!  
Por Matheus Vieira

Acompanhando o “andar da carruagem” da sociedade, sobretudo pelas redes sociais (sim, acredito que uma coisa reflete a outra) comecei a me questionar: “até que ponto o uso ou o surgimento de novos recursos ou novas tecnologias estavam melhorando ou auxiliando nossas vidas?”

Esse uso desenfreado das tecnologias pode aguçar o narcisismo que há em nós e nos deixar cada vez mais solitários.

O mito de Narciso conta a história de um jovem rapaz muito belo, que despertava a paixão de ninfas e donzelas. Porém, Narciso preferia viver sozinho, pois acreditava que não havia encontrado ninguém a sua altura, ninguém que merecesse seu amor. Um dia, cansado da caça, com muita sede e calor, Narciso se debruçou em um lago para poder beber água. Ficou surpreso com o que viu, admirado com a beleza da criatura que estava vendo. Mal sabia que era a sua própria imagem. Narciso apaixonara-se por sim mesmo. Toda vez que Narciso tentava tocar sua paixão a imagem sumia entre as águas e voltava depois de pouco tempo. Percebendo que não poderia tocar a imagem, Narciso ficou o resto dos seus dias debruçado na margem do lago se admirando, esquecendo de comer e de beber, e definhou até a morte. (há outras versões, mas em todas ele morre apaixonado por si mesmo)

É interessante refletir sobre dois aspectos do mito.

- O primeiro deles é como Narciso viveu só para ele, desprezando as outras pessoas. No fim percebemos que Narciso buscou a vida toda um espelho. De alguma forma é isso que acontece atualmente. As pessoas passam a se relacionar menos e a buscar uns aos outros apenas como espelhos. Querem se sentir belos, únicos e na busca dessa beleza acabam não percebendo que há uma sociedade a sua volta.
- O segundo aspecto se refere à impossibilidade do toque de Narciso. Sua paixão nunca foi completa porque ele não podia tocar o ser amado. De alguma forma isso reflete na constante insatisfação da sociedade. Para nos sentirmos os melhores, temos que ter o melhor. Logo, para ser o melhor, tenho que ter aparelhos tecnológicos de ponta, ter mais amigos, ser o mais procurado – para completar a paixão narcísica, tenho que estender a mão e buscar o toque.
Assim como no mito, a imagem se desfaz, porque assim que se compre algo logo queremos outra coisa, por mais que estejamos cercados de “amigos” é comum ainda estarmos sozinhos. É uma busca fadada à frustração.

Computadores, celulares e os novos arsenais tecnológicos, redes sociais permitem romper barreiras de tempo e espaço, mas podem fazer perder a capacidade de estabelecer relações afetivas duradouras. Nunca se esteve tão sozinho mesmo em contato com tanta gente.
Tenho a sensação que a introspecção da solidão, as conversas a fio, por saudade, a essencialidade são evitadas como se fossem pecados!

Muita gente compra e utiliza as novas tecnologias, pela possibilidade de criar uma sensação de afeto. A possibilidade de ter cada vez mais amigos é a possibilidade de se ver cada vez menos carente. E nesse sentido a globalização e a quebra de distância possibilitam o contato com pessoas de todo o mundo. Contato, mas e o afeto?

Gosto de pensar como Fernando Pessoa pensou sob as vestes de Alberto Caeiro: Sejamos simples e calmos, Como os regatos e as árvores. Simples.... não seria essa a palavra de salvação para a atualidade?!? Deixarmos de buscar a felicidade hollywoodiana e nos contentarmos com nossa “felicidade feinha” da Adélia Prado?

Não sei se consigo, creio que tenho muito ainda que des-envolver das certezas sociais que nos são impostas... mas continuo tentando!


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